segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Com aval do STF, caso Irmã Dorothy Stang se consolida como mais um símbolo da injustiça brasileira

Natasha Pitts Jornalista da Adital Adital   Foi libertado quinta-feira (23) em Altamira, no Pará (região Norte do Brasil), u... thumbnail 1 summary
Natasha Pitts
Jornalista da Adital
Adital
 
Foi libertado quinta-feira (23) em Altamira, no Pará (região Norte do Brasil), um dos principais acusados do assassinato da missionária Dorothy Stang, morta em 2005, em Anapú. Regivaldo Pereira Galvão, o Taradão, havia sido condenado a 30 anos de reclusão, mas por decisão do juiz Murilo Lemos Simão, o acusado poderá apelar em liberdade.

A decisão, tomada pelo juiz de Marabá e reforçada por um habeas corpus concedido pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), indignou quem acompanha o caso e luta por justiça. Dinailson Benassuly, coordenador do Comitê Irmã Dorothy Stang, disse estar estupefato com a liberação do mandante do crime.

"Pela gravidade e repercussão do caso nós não acreditávamos que isso poderia acontecer, mas aconteceu. Regivaldo é o mais rico dos envolvidos no ‘consórcio’. Os outros estão cumprindo pena há quase oito anos, mas ele não. Foi condenado, preso, solto, preso novamente e agora está solto de novo. Por que será? A sociedade está à mercê”, denuncia.

Em 2010, Regivaldo foi condenado pelo tribunal do júri a uma pena de 30 anos por ser o mandante do assassinato da irmã Dorothy e estava preso, mas foi libertado quando seus advogados conseguiram interpor um recurso de apelação. Dinailson conta que a luta foi intensa para conseguir o retorno do criminoso à prisão.

Um ano depois, a decisão foi revertida por um tribunal estadual, que entendeu que o acusado deveria cumprir a pena. A defesa pediu novamente sua liberdade, mas o Tribunal de Justiça do Pará e o Superior Tribunal de Justiça negaram com base no modo como o crime foi cometido e em virtude do poder aquisitivo do réu, o que facilitaria sua fuga ao aguardar em liberdade seu processo de apelação.
Agora, com o mandante do assassinato novamente em liberdade, o coordenador do Comitê Dorothy Stang afirma que vão retomar a luta para que Regivaldo seja preso novamente. "Com essa decisão, vamos a acionar advogados e Ministério Público, pois queremos que a justiça seja feita e que esta novela sem fim acabe. Nós estamos atentos, de olho e vamos batalhar para que Regivaldo seja preso”, diz. 


Na primeira vez em que foi solto, o fazendeiro ameaçou moradores e integrantes do projeto de desenvolvimento sustentável criado pela irmã Dorothy. Este temor volta com a liberdade de Regivaldo. Dinailson alerta que é preciso preservar a segurança do padre e das irmãs que atuavam com Dorothy.

Impunidade
Decisões contraditórias e incompreensíveis como a de ontem em favor de um criminoso não são incomuns no Brasil, sobretudo quando o assunto é conflitos no campo. O mesmo juiz, Murilo Lemos Simão, absolveu o fazendeiro Vicente Correia Neto e os pistoleiros, Valdenir Lima dos Santos e Diego Pereira Marinho, acusados de matar o líder sindical Valdemar Barbosa de Oliveira, o Piauí, em junho de 2011. Lemos Simão também se negou, por duas vezes, a decretar a prisão do fazendeiro e dos dois pistoleiros acusados do assassinato do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, em Nova Ipixuna (PA), em maio de 2011.

Para o coordenador do Comitê, casos como estes incentivam a continuidade dos crimes no campo. "Nós queremos que a impunidade encerre, mas para isso é preciso haver punições exemplares, sobretudo para quem atenta contra a vida. A impunidade gera mais violência, porque isso se torna um incentivo a mais crimes”, critica.

No Brasil, a população do campo enfrenta constantes situações de violência. Dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT) dão conta que 1.855 pessoas estão sob ameaça por conflitos agrários. Maranhão e Pará são os estados mais violentos e os povos indígenas e os quilombolas são considerados os mais vulneráveis.

Entenda o caso
Irmã Dorothy era uma missionária norte-americana que atuava com projetos de reflorestamento e proteção à floresta Amazônica. Também trabalhava junto aos agricultores/as e lutava pela redução dos conflitos fundiários, muito comuns nesta parte do Brasil. Em 12 de fevereiro de 2005, após receber várias ameaças de morte em decorrência de seus trabalhos, a missionária foi assassinada com seis tiros, em Anapu.
Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

Nenhum comentário

Postar um comentário